Bento de Sousa Farinha

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Bento José de Sousa Farinha (Alandroal, 1740Lisboa, 1820) foi um filósofo e pedagogo português. Deixou uma vasta obra que compreende escritos pedagógicos, escritos filosóficos, oratória, panegirismo e a tradução para português de obras de reputados filósofos europeus. A sua obra influenciou decisivamente a evolução do ensino da Filosofia em Portugal durante todo o século XIX. Foi sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nas cido no Alandroal, Bento de Sousa Farinha fez os seus estudos preparatórios em Évora, tendo aí estudado Latim, Filosofia e Teologia. Ingressou em 1760 na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde em 1764 se formou em Direito Canónico.[1]

Regressado a Évora, em 1764 inicia naquela cidade uma aula pública de Filosofia, onde leccionava como professor régio, cargo que manteve até 1779, leccionando durante 15 anos consecutivos. Durante aquele período dedicou-se à divulgação, compilação e tradução da obra daqueles filósofos que considerava fundamentais para sustentar o ensino da Filosofia em Portugal. Demonstrou então a sua acentuada vocação pedagógica, seguindo um pedagogismo que o coloca a par dos intelectuais europeus coevos. Tendo como principal preocupação a divulgação dos textos fundamentais que entendia deverem sustentar o ensino da Filosofia, dedica-se essencialmente à divulgação, compilação e tradução, não sendo relevante o seu contributo para a criação de pensamento original.

Os critérios de selecção e escolha que adopta levam-no a privilegiar os pensadores do século XVI, período que julgava corresponder ao apogeu das letras em Portugal. Esta sua visão, assente no sentimento decadentista que a partir do século XVII perpassa a intelectualidade portuguesa, era justificada pela crassa ignorância e decadência cultural que a partir de 1620 se teria apoderado da inteligência portuguesa.[2]

Em 1779 vicissitudes várias forçam Bento de Sousa Farinha a abandonar a docência e a trocar Évora por Lisboa, cidade onde então se fixou e onde viveu o resto da sua vida. Bibliotecário no Palácio da Ajuda, dedica-se então à escrita de um conjunto de dissertações de interesse filosófico, parte das quais foram publicadas no Jornal Encyclopedico de 1789 e 1790. Nessas dissertações reflecte sobre a essência da Filosofia, demonstrando um pensamento de pendor vincadamente augustiniano.[3] Uma das suas preocupações era a demonstração da insuficiência da Lei Natural, procurando por essa via combater o deísmo e do ateísmo.[4]

Nos seus escritos mais tardios elegeu o ideal socrático do "conhece-te a ti mesmo" como o âmago de toda a Filosofia, afirmando que a ela compete tudo quanto contribua para a dignificação da natureza humana através do uso da liberdade de entendimento concedida por Deus, o que o coloca, na senda de Santo Agostinho, no campo do socratismo cristão e do iluminismo católico. Na esteira do pensamento jansenista contido na Lógica de Port-Royal, advogava a redução do âmbito da Metafísica, que defendia ser mera parte da Lógica e da Física.

Um dos seus mais importantes legados foi a compilação e edição de textos de pensadores portugueses dos séculos XVI e XVII que teriam de outra forma passado ao oblívio total[5] e a criação de um corpus que enformaria o ensino da Filosofia em Portugal durante boa parte do século XIX, nele privilegiando Luís António Verney, Antonio Genovesi e Heinécio.

Nos seus ensinamentos, Bento de Sousa Farinha adoptou de Verney o estatuto atribuído à História como ciência propedêutica e a pretensão de uma Lógica reformada. De Genovesi adoptou a lógica e a metafísica, sendo o maior tradutor e editor em Portugal da sua obra, o mesmo acontecendo em relação a Heinécio, de que seguiu sobretudo a filosofia moral.

Notas

  1. Pedro Calafate, "Bento Sousa Farinha", in Logos, 2, cols. 448-45.
  2. Pedro Calafate, "Bento de Sousa Farinha" no Centro Virtual Camões.
  3. Ibidem.
  4. Dissertação sobre a Insuficiência da Lei Natural, Lisboa, 1789.
  5. Filosofia de Príncipes apanhada das obras dos nossos portugueses, Lisboa, I-1786; II-1789; III-1790.

Referências[editar | editar código-fonte]

  • António Alberto Banha de Andrade, "A filosofia das escolas menores oficiais" in Brotéria, vol. XLV, 1947;
  • Francisco A. Lourenço Vaz, As Ideias Pedagógicas em Portugal nos Fins do século XVIII - Bento José de Sousa Farinha. Dissertação de Mestrado em História Cultural e Política apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1993.
  • João Pereira Gomes, "Últimas Actividades Filosóficas na Universidade de Évora" in Brotéria, 69 (1959), pp. 393 a 404;
  • Joaquim de Carvalho, "Evolução da historiografia filosófica em Portugal até fins do século XIX" in Obra Completa, vol. II, Lisboa, 1981, pp. 121 a 154.
  • Manuel Lopes de Almeida, "A propósito de Bento José, professor de Filosofia em Évora" in Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, vol. XVII, 1947, pp. 609 a 623;
  • Mariana Amélia Machado Santos, "Bento José, professor de Filosofia em Évora" in Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, vol. XVII, 1947, pp. 295 a 300;
  • Mariana Amélia Machado Santos, Bento José de Sousa Farinha e o Ensino, Coimbra, 1948.
  • Rodrigo V. de Almeida, "Subsídios para a história do professorado em Portugal: Bento José de Sousa Farinha e seus escritos" in Revista de Educação e Ensino, vol. XV, 1900, pp. 314 a 327;

Ligações externas[editar | editar código-fonte]